Fui convidado pelo renomado professor de Psicologia, Kazuo Fujita, para palestrar na Universidade de Kyoto, no Japão, sobre como ensinar os cães a usarem sinais arbitrários para se comunicarem. Ele, que possui estudos citados em mais de 2.600 artigos, se interessou pela pesquisa de cognição que desenvolvi com a Sofia e com a Estopinha – The dog at the keyboard.
O professor Kazuo não apenas me cedeu esse espaço e a oportunidade de compartilhar o meu trabalho com o público japonês, como também me apresentou as delicadezas daquela grande, moderna e bela cidade, como, por exemplo, as típicas Sakuras (árvores de cereja).
Foi um prazer enorme e, mais ainda, após chegar ao Brasil, receber um e-mail tão gratificante. Acredito que todas as pessoas apreciaram a sua palestra, assim como eu, que fiquei particularmente impressionado com o Skype da Estopinha. Me surpreendi também com as formas de treinar sinais corporais do cão, com apenas uma palavra. [userpro_private]
A palestra foi ótima! Já é a quinta vez que participo de encontros desse tipo no Exterior. Já estive em Boston, Nova York, Dallas e Inglaterra disseminando e aprendendo cada vez mais sobre comportamento animal. Durante todas essas viagens, eu pude ver um pouco mais de perto a cultura dessas outras pessoas, o ritmo de trabalho e de lazer e as prioridades delas.
No quesito “contraste”, o Japão foi, até então, o local mais diferente do Brasil em que já estive. Por exemplo, quem conhece o serviço de aluguel de cães? Eu tive a oportunidade de conhecer de perto. Lá, muitos bichinhos acabam ficando sozinhos quando os seus donos falecem, mudam de local ou mesmo quando são abandonados, então eles se tornam companheiros de aluguel. Grande parte dos cidadãos japoneses ganha a vida locando os pets a famílias que escolhem com qual peludo querem passar horas, dias ou semanas.
Outro ponto que me chamou a atenção é que os japoneses são extremamente preocupados com o bem-estar do próximo e todos possuem uma educação sem igual. O cachorro alugado precisa, necessariamente, estar de coleira e o “contratante” é quem tem a tarefa de recolher toda e qualquer sujeira que ele venha a fazer em locais públicos. Isso já está introduzido na rotina deles, faz parte do DNA dessas pessoas.
Eles possuem por lá um estabelecimento chamado Dog Coffee, que é um local relativamente pequeno, mas muito bacana e que também oferece a companhia dos animais. O engraçado é que apenas os pets fazem bagunça. As pessoas são discretas, quietas e procuram não fazer algazarras com os bichos. Elas chegam e aguardam a vontade do cão em demonstrar um sinal de aproximação e de interação.
Aliás, os cães de lá são bem menos obedientes e educados (diferentemente das pessoas, que demonstram sempre respeito pelo próximo). Os japoneses costumam deixá-los em gaiolas, para que se comportem. Apesar de parecer um castigo, foi a forma que eles encontraram de mostrar aos pets quem é o “dono” da matilha. Aos poucos, eles estão se aprimorando sobre técnicas de comportamento, com consciência e respeito aos animais!
Minha passagem pelo Japão foi muito especial. Aprendi muitas coisas novas e espero ter, em breve, novas histórias para compartilhar com vocês. [/userpro_private]
Alexandre Rossi é zootecnista, especialista em comportamento animal e sócio-fundador da Cão Cidadão.