Ter uma pele saudável é essencial para que os pets tenham qualidade de vida e bem-estar. A primeira barreira contra diversas enfermidades é a pele. É o órgão que tem mais contato com o ambiente e por isso é através dele que diversos fungos, bactérias e ácaros podem adentrar ao organismo e gerar doenças graves, se não forem tratadas da maneira adequada.
É imprescindível que os tutores de pets fiquem atentos não apenas ao pelo do animal, mas também à sua pele, porque nem sempre um pelo macio e brilhante indica uma pele saudável.
Quando procurar um Veterinário?
Caso o pet apresente coceira, vermelhidão, feridas, formação de crostas, olhos vermelhos, descamação ou perda de pelo, é necessário levá-lo ao médico-veterinário, dando prioridade a um especializado em Dermatologia.
Alguns problemas dermatológicos que podem acometer os animais são: presença de parasitas, como pulgas e carrapatos, os quais podem transmitir diversas doenças. Sendo assim, visando conter e evitar outras infestações, é recomendado higienizar o ambiente, dar banhos com shampoos parasiticidas, vestir o pet com uma coleira antipulgas e, se necessário, fazer a administração de medicamentos receitados pelo médico-veterinário.
Além disso, outra afecção é a sarna, a qual é ocasionada por ácaros. Há dois tipos de sarna, a demodécica e a sarcóptica (escabiose), sendo que esta última é uma zoonose, ou seja, é transmissível aos seres humanos. Ademais, existem também as alergias alimentares, ou hipersensibilidade alimentar, que, se não forem cuidadas da maneira correta, podem causar doenças secundárias, como a piodermite e otite.
Quais as principais afecções dermatológicas?
Cromodacriorreia
As afecções oculares são recorrentes na rotina clínica veterinária de cães e gatos. A manifestação clínica mais comum é a epífora, que é um lacrimejamento excessivo dos olhos devido a uma falha no sistema de drenagem das lágrimas, que pode ser consequência de alterações congênitas – por exemplo, falta de porções do ducto lacrimal, aplasia de ponto lacrimal e anomalias de pálpebras – ou alterações adquiridas – como, por exemplo, por traumas, lacerações, infecções oculares, presença de corpos estranhos como poeiras, neoplasias, entre outros (J. A. Jardim, 2011).
Um dos principais testes usados na clínica veterinária para avaliação da drenagem lacrimal é o teste de Jones, que consiste em instilar uma gota de fluoresceína em cada olho do animal, e inspecionar se em um determinado período de tempo as narinas e a cavidade oral estão coradas com pontos verdes florescentes, indicando que houve a drenagem do colírio dos olhos através do ducto nasolacrimal em cada lado da face, segundo Gellat (2014).
Nos casos onde há o comprometimento da drenagem das lágrimas via ducto nasolacrimal, a lágrima acaba sendo drenada pela superfície externa da pálpebra, umedecendo a pele e o pelo na região dos olhos, predispondo o crescimento de bactérias. Além disso, as próprias lágrimas possuem componentes como as porfirinas, catecolaminas que, junto com o ambiente úmido perfeito para o proliferamento bacteriano, contribuem para o desenvolvimento de cromodacriorreia (Gellat, 2014).
A cromodacriorreia, popularmente conhecida como “lágrima ácida”, são manchas castanho-avermelhadas que se formam em animais de pelagem clara devido à secreção excessiva e/ou acúmulo de porfirina no pelo. As porfirinas, ao se acumularem em grandes quantidades no pelame, acabam reagindo com a luz e levando à formação de manchas avermelhadas. A porfirina também pode ser eliminada através da saliva, suor (coxins plantares), urina e fezes, podendo estar associada com o aparecimento de manchas nas regiões da boca, patas, ânus e genitais.
O tratamento da cromodacriorreia atualmente gira em torno da limpeza diária dos locais com produtos tópicos e da realização de antibioticoterapia sistêmica, havendo a hipótese de que, com essa última, pelo que é atraída tanto pelo excesso de porfirina quanto pelo excesso de umidade em decorrência da epífora. No entanto, estudos sugerem que, em alguns casos, apenas o uso de antibiótico não teve efetividade no controle da cromodacriorreia quando descontinuado seu uso, além dos efeitos colaterais no uso destes medicamentos. Dessa forma, existem hoje no mercado soluções naturais para tratamento das “lágrimas ácidas” em cães, que constituem uma forma excelente e segura de tratamento para as manchas.
Otite
A otite é uma inflamação do conduto auditivo que pode ser classificada segundo sua localização (interna, média e externa), duração do processo (aguda ou crônica) e se há ou não comprometimento unilateral ou bilateral (Lopez; Fernandes, 2015). A otite é uma das doenças dermatológicas mais frequentes na rotina clínica de pequenos animais, com destaque para a otite externa, que ocorre na porção de orelha externa, compreendendo o pavilhão auricular, a
aurícula e o meato acústico externo (Custódio, 2019).
A otite pode ser desencadeada por causas primárias (razões que por si são capazes de originar a inflamação nos condutos auditivos saudáveis) como parasitas, traumas, corpos estranhos, endocrinopatias e reações de hipersensibilidade
(Machado, 2013) e também por fatores secundários como fungos, leveduras e bactérias que se instalam nos condutos auditivos que já possuam alterações. No entanto, há ainda os fatores predisponentes como a própria conformação das orelhas pendulares em raças como Beagle, Basset Hound e Cocker Spaniel e fatores perpetuantes como as alterações patológicas permanentes, como, por exemplo, a estenose de conduto auditivo (Lusa; Amaral, 2010). Segundo Silva; Santos, 2007, os principais sinais clínicos de otite externa vão desde prurido, eritema, alopecia do pavilhão auricular e edema, até sinais como inclinação da cabeça do animal, dor, exsudação e otohematomas devido a intensidade do prurido.
Já o tratamento da otite externa consiste em um conjunto de ações que se inicia na identificação dos fatores primários e predisponentes da otite instalada e limpeza do canal auditivo. Para isso, existem hoje no mercado produtos que possuem prata nanoparticulada, que além de ser uma substância com ação anti-bacteriana, parasiticida e antifúngica possui ação promotora de cicatrização de feridas e modulação de citocinas inflamatórias (Tian, 2007). Em seguida, o tratamento deve ser feito com medicamentos tópicos específicos baseados na citologia e antibiograma do conteúdo da orelha, associados a tratamento sistêmico em casos de otite externa grave, casos com otite média concomitante, após falha no tratamento tópico, entre outros (Miller et al., 2013). Após isso, o tutor deve ser educado a ficar sempre atento à limpeza das orelhas do seu pet.
Dr. Ronald Glanzmann é cofundador e diretor de Marketing e Novos Negócios da empresa Inovet; co-fundador e diretor Comercial e de Marketing da empresa Centralvet. Equipe de apoio: Dr. Andrigo Barboza de Nardi, médico-veterinário atuante na área de Oncologia. Dra. Flávia Tavares Manoel; Dra. Karine Kleine Figueiredo dos Santos; Dr. Luis Fernando de Moraes; Dra. Rute Mercurio; Daniela Marques Segatello.