O mercado de animais exóticos e silvestres ou apenas Pets não convencionais, tem registrado, globalmente, crescimento consistente, com o Brasil se destacando como um dos principais líderes na América Latina. Em 2022, segundo a Associação Internacional de Animais de Estimação (PIJAC), por aqui este setor movimentou R$ 2,5 bilhões, registrando um aumento de 15% em relação ao ano anterior. O Brasil é atualmente o quinto maior mercado em termos de volume, atrás dos Estados Unidos (R$ 12,8 bilhões), China (R$ 6,3 bilhões), Japão (R$ 4,5 bilhões) e Alemanha (R$ 3,8 bilhões).
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) e o Instituto Pet Brasil (IPB), a população de animais de estimação no País cresceu de 155,7 milhões para 160,9 milhões. Mais populosos no Brasil, os cães saltaram de 60,5 milhões para 62,2 milhões (alta de 2,8%). Em segundo lugar, as aves ornamentais subiram de 41,6 milhões para 42,8 milhões (alta de 3,0%). Em terceiro, os gatos, de 29,2 milhões para 30,8 milhões (alta de 5,4%), seguidos pelos peixes ornamentais de 21,8 milhões para 22,3 milhões (alta de 2,29%) e os répteis e pequenos mamíferos, de 2,6 milhões para 2,8 milhões (alta de 7,6%).
Os pets não convencionais incluem animais exóticos, como chinchilas e furões, espécies silvestres nativas, como jabutis e aves ornamentais. Esse segmento demanda cuidados específicos, gerando oportunidades para produtos, serviços e profissionais especializados, em um mercado com menor concorrência em relação a cães e gatos.
Cerca de 43% dos pets no Brasil são classificados como não convencionais, abrangendo aves ornamentais, peixes ornamentais, pequenos mamíferos e répteis. Entre 2017 e 2020, houve um crescimento de 8,09% nesse segmento, próximo aos 9,69% registrados por cães e gatos. A criação de pets silvestres é regulada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que visa coibir a captura ilegal e incentivar práticas sustentáveis de criação.
A biodiversidade brasileira, que inclui mais de 120 mil espécies de invertebrados e cerca de 8.930 vertebrados, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), enfrenta desafios no mercado de pets silvestres. A Associação Brasileira de Criadores e Comerciantes de Animais Silvestres e Exóticos (ABRASE) ressalta a importância do setor para a preservação e manejo sustentável de espécies ameaçadas, contribuindo com o conhecimento técnico e a proteção ambiental.
Apesar do potencial, existem obstáculos como a concorrência com o mercado ilegal e a facilidade de aquisição de espécies nativas brasileiras no exterior devido à maior oferta e preços competitivos. Regiões como os Estados Unidos, França e Holanda têm investido em tecnologias para a reprodução e manejo de espécies exóticas. Em 2015, a Abinpet observou que esses países tinham uma oferta superior de espécies brasileiras.
A criação de animais em cativeiro, no Brasil, gera impacto econômico positivo: em 2011, foram contabilizados cerca de 77,8 mil empregos diretos e 126 mil indiretos, movimentando R$ 632,6 milhões com a venda de animais vivos. Em 2019, criadouros comerciais venderam 93,2 mil animais, com destaque para Mato Grosso do Sul (25,2% das vendas), São Paulo (16,5%), Paraná (14,3%) e Minas Gerais (13%). Em 2012, a ABRASE indicou que 36,75% dos pets não convencionais eram domésticos, 31,75% silvestres nativos e 26,1% silvestres exóticos, com preço médio de R$ 553,30 por animal. O faturamento do setor está distribuído entre alimentação (43%), equipamentos e acessórios (28%), venda de animais (25%) e serviços veterinários (0,34%).
Internacionalmente, o Brasil ocupa papel de destaque na exportação de aves e répteis, tendo como principais destinos os EUA, Europa e Ásia. Em 2022, as exportações brasileiras de animais exóticos alcançaram US$ 150 milhões. Contudo, o País enfrenta desafios para competir com outros produtores globais, apesar de seu potencial para criar espécies em cativeiro para comércio e preservação. Em 2009, as exportações de animais vivos representaram apenas 0,3% do total.
O crescimento desse setor reflete um maior interesse dos consumidores por espécies distintas e mais práticas, especialmente em ambientes urbanos, como destaca Caio Villela, presidente-executivo do IPB. Espécies como tartarugas-tigre-d’água e chinchilas ganharam popularidade devido ao perfil urbano e familiar mais compacto. “Apesar do primeiro lugar ainda indiscutível dos cães, é notório que ao lado dos felinos, que já apresentavam crescimento em outras pesquisas, dessa vez observamos que os répteis e pequenos mamíferos têm despertado mais interesse. São animais de menor porte, como as tartarugas- tigre-d’água, as chinchilas ou hamsters, por exemplo. Os números reforçam a ideia de que a urbanização e verticalização das cidades, com famílias menores, têm feito com que animais com manutenção mais simples e que demandam menos sejam atraentes para um número cada vez maior de pessoas”, comenta Caio.
Além disso, há potencial para o Brasil se tornar referência na produção de animais silvestres, aliando economia, sustentabilidade e preservação. Projeções indicam que o mercado pode atingir R$ 4 bilhões, em 2025, desde que as práticas ambientais responsáveis e o bem-estar animal sejam garantidos.
Apesar das dificuldades, o setor de pets não convencionais no Brasil tem mostrado força, com potencial para alavancar a economia e contribuir para a preservação de espécies. Com práticas sustentáveis e regulamentação adequada, há espaço para conciliar crescimento econômico e proteção ambiental, explorando de forma ética a biodiversidade do País.
Colaboraram para esta matéria, Laura Dias Sponton, do Departamento Técnico da NUTRICON e Thiago Juncken, da EcoTop (@exoticos do Thiago).