Mês do médico veterinário e também de prevenção à um dos fatos mais comuns no planeta Terra, prevenção ao suicídio. E porque isso é importante para a Medicina Veterinária? Vamos aos fatos:
A profissão é linda, com certeza, mas muito ingrata em vários sentidos. Normalmente tratamos pacientes desde filhotes até seu último suspiro da velhice. E com o extremo amor e dedicação dos profissionais desta área, nós nos apegamos aos nossos pacientes e acabamos virando até psicólogos de suas famílias nos momentos de quadros clínicos graves e ate mesmo pelo óbito do paciente.
Mas a questão vai além disso. Somos muito desvalorizados em muitas instâncias. Desde muitos não nos verem como médicos e apenas como profissionais que “fizeram veterinária por amor”. Também somos humanos e precisamos cobrar pelos nossos serviços. Onde por tantas vezes vemos tutores pagando facilmente por um banho de rosas caro em um Pet shop e reclamando de ter que pagar uma consulta, da qual, com muita competência e amor inestimáveis avaliamos, solicitamos exames, diagnosticamos doenças simples e gravíssimas, assim traçamos planos de tratamentos, medicando os pacientes e salvamos vidas. Das histórias mais simples às mais graves e ainda assim, não temos a valorização que merecemos.
Apesar de todos os esforços, lembrando que o médico veterinário está apto a atender pacientes de diversas espécies diferentes, idades e em todas as especialidades, há um preconceito e até julgamento de que o Médico Veterinário por ter estudado essa medicina com amor e não por amor, recebemos nomes como “mercenários” de alguns tutores que além de terem negligenciado seu próprio pet ignorando a recomendação médica de manter check ups anuais para a prevenção de quadros clínicos mais graves, ainda nos responsabilizam por termos certos obstáculos para tratar doenças que poderiam ter sido evitadas caso tivessem seguido as recomendações de prevenção através de check ups e manter as vacinas para doenças fatais em dia.
As mensagens e pedidos de ajuda para resgatar animais em situação de rua e desgraça inimagináveis aparecem todos os dias e as pessoas esquecem que somos profissionais da saúde, sim, mas também somos humanos e não podemos abraçar o mundo, apesar de tentarmos de tudo para evitar ou ao menos amenizar cenários assim.
Sem contar as horas exaustivas de trabalho, sem qualquer subsídio por insalubridade considerando os altos índices de zoonoses, que podem exigir tratamentos caros e preocupantes, prejudicando a saúde mental, emocional e física. Mas ninguém parece enxergar isso!
Mas fora tudo isso que foi citado aqui. O médico veterinário se sente exausto, recebe salários baixíssimos quando não realiza atendimentos sem cobrança alguma tentando salvar mais uma vida e pensando também no bolso do cliente / tutor que por diversas vezes chega com o histórico de ter passado com o Pet em outros profissionais e por isso acreditam que já gastaram o que podiam e aí, como profissionais cheios de empatia pelo Pet e respeito pela questão financeira do tutor, acabamos virando um centro de acolhida de pacientes a um custo baixíssimo ou até mesmo sem custo algum, na desesperada vontade de salvar mais uma vida. Isso tudo junto resulta em burnout e ansiedade em excesso.
Infelizmente muitos colegas de profissão acabam entrando em depressão profunda e buscam apoio além da psicoterapia em drogas, facilmente acessíveis para nossa classe, gerando desistência da profissão, vícios em drogas potentes como sedativos fortes que podem resultar em overdose por acidente ou até mesmo suicídio.
Esta estatística é muito real e triste, pois é a profissão com maior índice de suicídio em comparação às demais. Seja por desvalorização, fadiga psicológica por expectativas de tutores os fazem pensar que estamos podemos fazer milagres, quando estamos dando nosso melhor desde a consulta inicial até os casos de emergência ou urgência que requer medidas extraordinárias.
Onde por muitas vezes somos procurados para o tutor abandonar o Pet ou até pedir eutanásia porque o pet, apesar de jovens, muitas vezes apresentam apenas um problema de pele recidivante que causa sofrimento desnecessário ao Pet e com recomendação de tratamento, onde, seja por falta de perseverança ou questões financeiras o tutor insiste em dizer que quer a eutanásia porque o odor da pele do Pet é forte por, muitas vezes, pura falta de escuta e ação adequada para tratamento do paciente Pet e ao invés de serem seguidos, muitos preferem desistir de seu Pet e aumenta as chances deste profissional que o está atendendo, não recomendar a eutanásia e sugerir fortemente que o tratamento seja devidamente seguido.
Em suma, por conta de todos os pontos abordados nesta matéria, é gerado no profissional uma estafa emocional que o leva ao óbito por suicídio.
Podemos evitar isso com a adequada valorização da profissão e empatia pelo humano que está por traz desta profissão. Vamos ajudar a combater o suicídio? Valorize seu médico veterinário e lembre-se que um animal adotado ou comprado trará gastos e cuidados para o resto da vida. Eles não são de pelúcia e nós não somos super heróis, somos humanos que só quermos entregar toda nossa dedicação e esperamos duas coisas dos tutores, respeito com o conhecimento da profissão e dedicação quanto à saúde e vida do Pet. Poderiam refletir a respeito e se colocar no lugar do médico veterinário em prol de entender nosso comprometimento com o Pet e com os tutores? Acredito que assim como salvamos milhares de vidas de Pets todos os anos, vocês, tutores podem contribuir com o declínio das estatísticas de suicídio desta profissão e por se tratar do Setembro amarelo, combater o suicídio com ações simples como valorizar a classe linda desta profissão. É um pedido de socorro e não um apelo vazio. Reflitam para que haja um resultado mais positivo, onde o suicídio deixe de ser uma opção para um profissional que realmente trabalha com amor e extrema dedicação.