Um novo olhar sobre a tutoria responsável de animais exóticos e silvestres
A grande diferença em escolher um pet não convencional é que cada espécie possui necessidades muito específicas. Um coelho, por exemplo, precisa de espaço para correr e uma dieta rica em feno para manter a saúde. Aves necessitam de estímulos constantes e liberdade para bater asas, enquanto répteis só se desenvolvem bem em ambientes controlados, com temperatura e iluminação adequadas. Sem essas condições, o animal pode adoecer e ter sua expectativa de vida reduzida.
Estudos indicam que pelo menos 80% dos problemas de saúde desses animais são consequência de erros no manejo, como alimentação inadequada, recinto insuficiente ou controle de temperatura inadequado.
Outro ponto que muitos esquecem é a longevidade dos pets não convencionais. Enquanto pequenos roedores vivem apenas alguns anos — o que pode ser muito dolorido para quem cria vínculo —, algumas espécies, como tartarugas, podem ultrapassar décadas de vida, tornando-se até uma verdadeira “herança de família”. Por isso, adotar um pet não convencional pode ser um compromisso de longo prazo, que precisa ser cuidadosamente avaliado antes da decisão.
A saúde em primeiro lugar
Diferente de cães e gatos, nem sempre é fácil encontrar veterinários especializados em animais não convencionais, justamente porque cada espécie exige conhecimento específico e cuidados próprios. Quando se encontra um profissional qualificado, o custo costuma ser mais alto. Por isso, é fundamental que o futuro tutor esteja preparado para investir tempo, atenção e recursos financeiros no bem-estar do seu companheiro. Assim, ele terá uma vida longa, saudável e feliz, com acompanhamento adequado de alimentação, ambiente, saúde preventiva e monitoramento constante das suas necessidades.
Legalidade e ética
No Brasil, muitos animais só podem ser criados com autorização do IBAMA e devem ser adquiridos exclusivamente de criadouros legalizados. Pesquisar a procedência é, portanto, um ato de responsabilidade e respeito à natureza, garantindo que não haja envolvimento com o tráfico de animais silvestres e contribuindo para a preservação da fauna local.
Um exemplo de como uma escolha impensada pode gerar problemas ambientais envolve os hedgehogs, ou ouriços-pigmeus-africanos, popularmente conhecidos como “Sonic”. Esses mamíferos, originários da África, estão se tornando “moda” no Brasil por sua aparência fofa, mas exigem cuidados muito específicos. São animais estritamente noturnos, carnívoros/insetívoros, que necessitam de muita higiene, espaço adequado e manuseio limitado durante o dia, pois isso prejudica sua saúde. Além disso, possuem alta taxa de reprodução e não gostam de contato frequente com humanos.
Dessa forma, muitos hedgehogs acabam sendo doados pouco tempo após a compra, quando os tutores percebem que as necessidades da espécie não se encaixam no seu perfil e na sua rotina. Já foram registrados casos de abandono, e o risco de introdução dessa espécie na fauna brasileira é real. Sem predadores naturais, esses animais podem desequilibrar ecossistemas, impactando a população de insetos e pequenos roedores, além de potencialmente introduzir doenças desconhecidas para a fauna local.
Informação é cuidado
Antes de tomar a decisão, é fundamental dedicar tempo para estudar sobre a espécie desejada, conversar com outros tutores e buscar orientação de profissionais especializados, como consultorias que ajudem a encontrar o pet que melhor se encaixe no perfil e rotina da família.
Por exemplo, a compra de coelhos para famílias com crianças nem sempre é indicada. Esses animais não gostam muito de colo e podem se tornar agressivos ou morder. Para essas famílias, uma ótima opção são os porquinhos-da-índia: eles necessitam de menos espaço, têm alimentação mais prática e possuem vocalizações que indicam suas necessidades, facilitando a interação com os humanos e tornando a convivência mais prazerosa e segura.
Quando o tutor se dedica a estudar, planejar e entender as necessidades da espécie, é possível evitar frustrações e garantir que o pet tenha uma vida saudável, feliz e segura, tornando a convivência prazerosa para todos.
Ana Paula Aprigio, CEO e Fundadora da Exotic In House. Bióloga, Groomer, Consultora, Palestrante especializada em Pets Não convencionais!