A medicina veterinária especializada em peixes começa a se desenvolver no Brasil, ainda em estágios iniciais se comparada ao cenário norte-americano. Apesar da limitação de medicamentos e equipamentos específicos, os primeiros passos já foram dados, e especialistas veem um caminho promissor pela frente.
O Dr. Humberto Atílio Grassi, integrante da equipe de animais exóticos do Hospital Veterinário Taquaral (HVT), em Campinas, dedica-se à área e amplia os serviços da unidade com atendimentos específicos para peixes: desde orientações sobre manejo, qualidade da água, tipos de aquários, até exames, cirurgias e cuidados clínicos.
Atualmente, já é possível realizar diversos procedimentos veterinários com os peixes, como exames de sangue, ultrassonografia, raio X, citologia, administração de medicamentos, anestesias e cirurgias.
“Muitos acreditam que quando um peixe adoece, é questão de tempo até ele morrer. Mas o atendimento especializado pode identificar sintomas precoces e salvar não só o peixe doente como os demais do aquário”, comenta o veterinário.
De acordo com o especialista, alguns procedimentos acontecem dentro da água – como a aplicação de certos medicamentos e anestesia – enquanto outros, como cirurgias ou coletas de sangue, precisam ser realizados fora, com sistema contínuo de hidratação do peixe.
Água: ambiente e risco
A água do aquário, além de ser o habitat dos peixes, pode também se tornar foco de doenças. Por isso, cuidar da qualidade da água e isolar rapidamente peixes doentes são medidas cruciais para preservar a saúde dos demais.
A separação em quarentena é uma das práticas mais recomendadas. Os tutores devem observar mudanças no comportamento, como:
- ausência na hora da alimentação,
- escamas opacas ou caídas,
- alteração de cor,
- machucados,
- ou se o peixe permanece no fundo do aquário sem razão aparente.
Na hora de montar um aquário, é essencial não misturar espécies que vivem em condições diferentes de:
- água (doce, salgada ou salobra),
- temperatura,
- pH
- ou territorialidade.
“Conflitos entre os peixes podem causar ferimentos, e esses machucados expõem o animal a bactérias da água. Com isso, o risco de infecção aumenta muito”, reforça Grassi.
O beta e o espaço ideal
Um dos peixes mais comuns, o beta, é exemplo de como o ambiente influencia diretamente a qualidade de vida. Para qualquer peixe, o ideal é um aquário de pelo menos 10 litros, independentemente do porte.
“Um beta criado em espaço maior tem desenvolvimento físico muito superior, especialmente na cauda”, explica o veterinário.
Além disso, é indicado o uso de bomba de oxigenação. Embora o beta consiga respirar fora da água – adaptação por viver em ambientes com baixo oxigênio – essa condição gera estresse e afeta sua imunidade.
Alterações na água, como pH desequilibrado ou excesso de bactérias, impactam diretamente a saúde do animal. Um peixe estressado está mais vulnerável a doenças.
Cuidados importantes
- As consultas costumam ser feitas com o peixe ainda na água, que também é analisada. Por isso, o atendimento domiciliar é comum;
- Ao adquirir um peixe novo, mantenha-o em quarentena antes de integrá-lo ao aquário principal. O transporte e a mudança de ambiente causam estresse;
- Aclimatar o peixe à nova água é fundamental: coloque-o em um saco plástico transparente dentro do aquário para equilibrar a temperatura antes de soltá-lo;
- Plantas naturais são benéficas, mas exigem iluminação adequada para manter a fotossíntese e o equilíbrio do CO₂ na água. Falhas nesse processo podem levar à morte dos peixes;
- Evite pedrinhas tingidas artificialmente. Tintas podem se dissolver com o tempo, liberando toxinas que causam estresse;
- Ao notar sinais de doença, isole o peixe doente o quanto antes – essa simples ação pode preservar a vida de todos os outros no aquário.
COMO CUIDAR DE PEIXES ORNAMENTAIS NO PERÍODO DE FRIO
Com a chegada das estações mais frias, é essencial redobrar a atenção com os cuidados dos peixes ornamentais. Profissionais do setor de aquarismo devem se antecipar aos efeitos do clima e adotar práticas que assegurem o bem-estar e a saúde desses animais durante o inverno.
Nessa época, manter a temperatura da água dentro da faixa ideal é crucial. Para isso, o uso de aquecedores e termostatos confiáveis é altamente recomendado. Eles ajudam a evitar oscilações bruscas, criando um ambiente mais estável para os peixes. A faixa ideal costuma variar entre 22°C e 26°C, de acordo com as necessidades de cada espécie.
Se os aquários ou tanques estiverem em locais abertos ou sujeitos a baixas temperaturas, é importante reforçar o isolamento térmico. Placas de isopor ao redor do aquário ou o uso de mantas próprias para conservação do calor podem minimizar a perda térmica e manter a temperatura interna mais estável.
Durante o inverno, o metabolismo dos peixes diminui, o que reduz a necessidade de alimentação. É recomendável oferecer menos ração e optar por alimentos de digestão mais fácil, como pellets leves ou flocos específicos para o período, evitando o acúmulo de resíduos que contaminam a água.
Com o resfriamento da água, o risco de proliferação de algas e bactérias pode aumentar. Portanto, é essencial monitorar regularmente os parâmetros da água – como pH, níveis de amônia, nitrito e nitrato. A manutenção da qualidade da água continua sendo um dos principais fatores para garantir a saúde dos peixes.
Outro cuidado importante é evitar choques térmicos. Alterações abruptas na temperatura da água devem ser evitadas, especialmente durante trocas parciais. A água nova nunca deve ser colocada quente diretamente no aquário; o ideal é deixá-la atingir uma temperatura semelhante à da água do tanque antes de ser adicionada.
Manter o ambiente limpo é fundamental o ano inteiro, mas no inverno, a atenção precisa ser ainda maior. Restos de comida e resíduos no fundo do aquário devem ser removidos com frequência para impedir alterações nos níveis de toxinas.
Cada tipo de peixe ornamental pode reagir de forma diferente às baixas temperaturas, por isso, conhecer as necessidades específicas de cada espécie é indispensável. Observar o comportamento dos animais diariamente ajuda a detectar sinais de doenças de forma precoce.
Com esses cuidados, lojistas e profissionais do aquarismo podem orientar os tutores de forma precisa, garantindo que os peixes ornamentais tenham um ambiente seguro mesmo nos períodos de frio intenso. Zelar pela vida desses animais também é valorizar a qualidade e a responsabilidade do setor.