Qual tutor não gosta de entregar seu pet para o banho e tosa e receber de volta um animal limpo, cheiroso, bonito, feliz e com aqueles adereços feitos com capricho? Todos gostam! Mas existem vários fatores internos dentro desse processo que podem causar estresse para o animal. Por isso, em alusão ao Dia Mundial de Combate ao Estresse,
lembrado neste 23 de setembro, a atenção também precisa ser voltada para tutores e profissionais de banho e tosa.
O primeiro fator que pode ser estressante para o animal é o ambiente. Se for um local com muito barulho, se o processo de banho e tosa for realizado com muita rapidez ou o profissional não souber manejar o animal com delicadeza, o pet nunca mais vai querer voltar. Segundo Ina Marins, comportamentalista animal, as reações de medo e
ansiedade, que muitas vezes estão presentes no banho e tosa, podem gerar reflexos no animal. “Isso ocorre porque sentimentos são transmitidos através de sinais ou posturas, os quais ele identifica e, muitas vezes, acaba expressando reações semelhantes, como não se sentir seguro ao ver a postura do banhista ou o tutor com medo, agindo de
forma agressiva, com a finalidade de sair daquela situação por receio e/ou insegurança” afirma.
Além disso, os animais possuem uma grande sensibilidade para perceber e receber energias. Por isso, se o tosador estiver com algum problema pessoal, se mostrar inseguro ou descontente com seu trabalho, o cão vai perceber essa
energia e pode ficar mais estressado, amedrontado e não deixar tocá-lo. De acordo com Natália Espinosa, groomer internacional e diretora da Uau Escola de Estética Animal, responsável pela formação de tosadores em Sorocaba-SP, entender o processo da energia é fundamental.
“Quando estamos trabalhando em um animal que está nervoso, com medo, ou que quer morder, a primeira coisa que temos de fazer é manter a calma para neutralizar a energia dele. Quando a situação persiste durante o procedimento, deixá-lo descansar por 10 minutos e fazer o profissional aproveitar essa pausa pode ajudar na retomada do processo. Se for o caso, trocar o profissional durante o procedimento de banho e tosa também pode resolver.
É importante destacar, também, a energia do tutor. Ele precisa tratar o banho e tosa como um evento positivo para o seu animal, falar do banho com alegria. Não ficar nervoso ou com medo, não reforçar o comportamento agitado do animal, tornar aquilo positivo, dar bifinho, brincar e, principalmente, estabelecer uma relação de confiança com o profissional tosador são meios importantíssimos e que garantem um serviço mais seguro e tranquilo para todos”, ressalta.
Por falar em tutores, muitos animais, ao simples fato de se afastarem dos seus donos por algumas horas, ficam ansiosos, tremem, e esse sentimento também pode deixá-los estressados durante o banho e tosa. Não significa necessariamente que ele não é bem tratado, apenas que ele sente muito ao ficar longe do seu tutor. Por isso o profissional tem papel fundamental de entender esse pet, dar carinho, desenvolver a confiança dele e saber como lidar com a situação.
Além do conhecimento e da técnica, é de extrema importância, em primeiro lugar, que o groomer goste de animais. Aliado ao carinho, é necessário que ele entenda de psicologia e comportamento canino para saber como o animal está se sentindo e se comportando, saber como lidar para melhorar seu bem-estar, ter a sensibilidade de dar aquela “pausa” e saber o que pode ou não fazer e quando, como no momento de cortar as unhas, por exemplo.
“Fazemos um carinho no animal, do qual chamamos de estímulo positivo, e tocamos na parte do corpo que vamos fazer o procedimento para que, de certa maneira, ele fique um pouco mais descontraído, distraído e confie que deixar fazer aquele procedimento pode ser prazeroso, como no momento do corte das unhas. Assim, ele sentirá aos poucos
que será um procedimento tranquilo para ele e que ele não precisa ter medo”, afirma.
A importância da profissional
Além dos animais, os profissionais também devem ser assistidos. Muitos fatores influenciam para o estresse do tosador, o que reflete em sua produtividade e qualidade de vida. Alguns tutores não entendem o processo de banho e tosa, então cobram por agilidade. Algumas pessoas que trabalham em atendimento, por não entenderem
tecnicamente do serviço, acabam marcando vários atendimentos seguidos, lotando a agenda dos profissionais e contribuindo para a sobrecarga da jornada de trabalho.
Agendar cachorros muito difíceis para horários tardios é outro ponto. Quanto mais complexo o trabalho, dependendo do comportamento do animal e de fatores de risco, maior é a atenção necessária e o tempo dado ao animal. Com a agenda lotada e a cobrança dos tutores, os profissionais não conseguem se alimentar ou descansar adequadamente, nem realizar bons trabalhos. É nessas situações que o índice de acidentes aumenta, tanto para o animal, quanto para o
profissional. “O banho e tosa é um procedimento delicado e que deve ser feito com calma. É um trabalho que exige muito desempenho físico e mental do profissional”, destaca.
Para os tosadores de primeira viagem, Natália dá algumas dicas: se formar em uma boa escola, continuar se especializando, praticar e buscar conhecimento sobre o comportamento animal são pontos essenciais para conquistar o sucesso profissional e o carinho dos pets.
“O medo é um processo normal. Chego a dizer que o medo é um sentimento bom, só não pode te cegar a ponto de você não prestar atenção no que está fazendo, e te impedir de buscar algo um pouco mais desafiador, isso para todas as profissões. O medo só serve para te deixar com mais atenção naquilo que você está fazendo. Oriento sempre
os meus alunos para que continuem buscando novos cursos de especialização e se autossuperem colocando em prática o que aprendem, porque é isso que vai torná-los profissionais cada vez melhores”, finaliza Natália. Mantendo a calma, é possível proporcionar uma experiência de banho e tosa incrível não só para os pets, mas, também, para tutores e profissionais de banho e tosa.