Com a expansão desse setor e alta procura por produtos desse nicho, a aquariofilia passa a fazer parte do chamado “Mercado Pet”, um segmento econômico que tem crescido em todo o mundo.
A tendência, segundo a Abinpet, é que devido ao novo quadro demográfico, que demonstra que as pessoas estão morando cada vez mais em apartamentos, a estrutura da população de pets do Brasil sofra mais mudanças, incluindo mais aquários em residências de todo o país.
Para saber um pouco mais sobre o cenário comercial desse setor, entrevistamos duas diretoras de empresas de grande visibilidade e credibilidade no mercado: Debora Jovenato, da Nutricon, e Cristiane Pompeu Figueiredo, da Poytara, para vermos como foi a evolução da indústria nessa última década. Confira!
Nutricon
A Nutricon oferece há mais de 10 anos excelência e qualidade em nutrição para bichos de estimação. A linha de produtos para os peixes de estimação é seu carro-chefe. Mas a empresa traz também uma gama de produtos para tartarugas, roedores (com produtos patenteados) e néctar para beija-flor. Tem como objetivo integrar ciência e tecnologia para desenvolver produtos saudáveis e inovadores.
Negócios Pet: Nesse tempo de mercado, o que a empresa mudou, por quê?
Debora Jovenato: Sempre buscando melhoria dos nossos alimentos e nossa estrutura, então muitas mudanças foram feitas ao longo do tempo. Lançamos e relançamos linhas de produtos, como por exemplo: as linhas Carnívoros Superfície e Fundo, Marinho Soft e Marinho Dia a Dia, Flowerhorn e Ciclídeo Papagaio. Aumentamos o parque fabril, a equipe comercial e técnica e recentemente se juntou à equipe um biólogo para tomar frente dos treinamentos e acompanhamentos direto dos vendedores com as lojas. Criando um vínculo de relacionamento Nutricon x lojista.
NP: Como vê o mercado de aquarismo brasileiro?
DJ: O mercado de aquarismo brasileiro ainda é cheio de preconceito com produtos nacionais e também, existe muita desinformação, fazendo que as pessoas desistam do hobby por acharem que é difícil ou caro. Porém a Nutricon acreditando no potencial e apaixonada no que faz investe cada vez mais no treinamento, apoio, pesquisas científicas e geração de conteúdo para que os consumidores tenham acesso a produtos de qualidade e informações bem pautadas.
NP: Quais as principais características do setor?
DJ: O setor de alimentos para pets inconvencionais (peixes, tartarugas, roedores e pássaros) ainda é muito pequeno aqui no Brasil, se compararmos com o de cães e gatos, tornando-se um mercado mais nichado e específico.
NP: Desde que começou, você vê uma evolução no setor?
DJ: Sim, existe uma evolução. Hoje por exemplo algumas pessoas do setor de aquarismo enxergam o peixe como um bicho de estimação e não mais um ornamento e isso faz com que elesse preocupem cada vez mais com o tipo de alimentação ofertada a eles.
NP: O que o setor precisa melhorar?
DJ: Precisamos cada vez mais unir as pessoas através da informação e do conhecimento, para que os mitos e preconceitos fiquem menores ou acabem.
NP: Na sua visão, quais os principais entraves para um crescimento melhor do mercado?
DJ: Acredito que hoje, no mercado nacional, os principais entraves são os impostos, que geram um custo mais elevado na hora da compra e venda dos produtos e também a questão cultural que ainda temos aqui onde o importado ainda é considerado melhor que produtos nacionais, o que é hoje em dia uma grande bobagem, pois temos acesso a compras de matérias-primas de qualidade, o que torna o produto tão competitivo quanto.
NP: Quais os planos para a empresa a curto e médio prazos?
DJ: Os nossos planos hoje são o de melhorarmos o nosso processo de produção, para desenvolvermos alimentos cada vez melhores, para isso estamos investindo em alguns maquinários novos, queremos lançar mais alguns produtos na linha de aquário marinho, estamos com um propagandista que irá visitar as lojas com mais frequência e fazer pesquisas e desenvolver um relacionamento mais de perto, além de continuamente investir no conteúdo dos nossos meios de comunicação, investimento em embalagens, treinamentos e pessoas.
Poytara
A Poytara nasce muito antes da sua constituição no papel por conta de uma paixão familiar por peixes, répteis e pássaros. Mas foi em 2004 que a empresa foi constituída formalmente. Atualmente, a empresa é um dos nomes de referência em alimentação para esses animais e sua linha peixes é bastante completa e atende às demandas de mercado, tanto na base alimentar de espécies mais comuns, quanto na especificidade, para espécies menos comuns. Durante toda essa jornada, foram extremamente ricas as experiências que culminaram no desenvolvimento da Poytara, que tem toda a sua base fundamentada em vivência, em amor, em estudos, em prática, em boas parcerias e em grandes apoiadores, assim como foram extremamente ricas todas as outras derivações desta história familiar.
Negócios Pet: Nesse tempo de mercado, o que a empresa mudou? Por quê?
Cristiane Pompeu Figueiredo: A meu ver, a Poytara trilha o caminho do sucesso, na medida em que mantém íntegros seus conceitos de amor e preservação da Natureza, sustentabilidade e aprimoramento. Isso requer mudanças e investimentos. As únicas mudanças que não admito são as que possam ameaçar os conceitos da empresa e a qualidade dos produtos. O mercado, eventualmente, aposta em tendências que não apoio. Acredito em padrão e em tradição, tanto quanto em inovação.
São tendências, hoje, a volatilidade e a praticidade, porém o mercado de aquarismo, com todos os seus produtos e soluções, é algo que se propõe para a Natureza, e o critério, para este tipo de mudança, é outro. A tecnologia é uma ferramenta importante e precisa ser aplicada na dinâmica operacional, para atender ao cliente “tutor”, e aplicada no desenvolvimento, para atender e proteger o verdadeiro cliente consumidor – o animal.
Uma das mudanças recentes que mais aprovei na trajetória da Poytara foi a do desenvolvimento dos frascos personalizados, tanto pela blindagem, já que a exclusividade nas embalagens nos torna menos suscetíveis de adulteração de qualquer natureza, quanto pelo diferencial inovador e pioneiro no sistema de dosagem, que garante melhor preservação e segurança dos produtos. Há várias propostas dentro deste único diferencial, além da segurança – educação ambiental e sustentabilidade fazem parte deste rol.
NP: Como vê o mercado de aquarismo brasileiro?
CPF: Tenho visão apaixonada. Como já informei, minhas raízes são todas nessa área. Aos 11 anos de idade (isso em 1982) eu já trabalhava em uma loja de aquarismo montada pelo meu pai e já tinha que ensinar passos básicos de manutenção aos clientes. Dali fui para outra loja de aquarismo e medicamentos veterinários, também montada por ele, e com público mais específico. Na sequência, e agora com 13 anos, abrimos uma loja que seria a primeira de uma franquia que pretendíamos.
Nesta fase, eu já tinha certeza da amplitude deste mercado, mas muito mais embasada em paixão e em lógica, do que em resultados. Como eu poderia ver de modo diferente, mesmo naquela época, algo como este mercado? Vivemos em um mundo cheio de belezas naturais, cheio de espécies maravilhosas, cheio de expectativas e experiências boas e ruins, que sempre resultarão em aprendizado, portanto, sempre boas, e, ao mesmo tempo, em busca de algo que jamais alcançaremos, de fato, porque nossa meta é sempre ter novas metas.
NP: Quais são as principais características do setor?
CPF: Como informei acima, o mercado de aquarismo brasileiro é imenso, incipiente e com tendência clara à expansão. Temos, naturalmente, condições apropriadas para essa expansão, em todos os níveis onde ela possa ocorrer. Geograficamente somos privilegiados, tanto para a captura, quanto para a reprodução de peixes ornamentais. Nosso clima é adequado, nosso solo é adequado, temos água em abundância, temos diversidade biológica, temos pessoas apaixonadas o suficiente para arriscar seu tempo e dinheiro nessa área, enfim… são muitos os fatores que contribuem para a continuidade da atividade, e em escala de crescimento exponencial, como tem ocorrido, comprovadamente, já há muito tempo.
A falta de materiais científicos suficientes que embasem a expansão profissional do aquarismo é, de certa forma, suprida pela prática reiterada e insistente de alguns interessados no assunto, em busca de aprimoramento, e até com resultados muito bons, mas que não deixam de caracterizar a prática amadorista. A profissionalização do setor exige a criação de protocolos claros para as inúmeras possibilidades de atuação.
NP: Desde que começou, você vê uma evolução no setor?
CPF: A educação, sem dúvida nenhuma, precisa melhorar. Hoje já há materiais muito bons sobre o tema e a expansão do mercado trouxe, inevitavelmente, positivação para a profissionalização gradativa do setor, mas não se pode desconsiderar que este é um nicho muito específico e com demanda interna muito limitada pelo desconhecimento. Não é qualquer pessoa que se arrisca a manter um aquário de porte considerável sem que tenha dedicado bastante tempo em busca de informações, e sem que tenha, também, muitas vezes, perdido exemplares de valor considerável.
E estão certos, neste sentido, porque o grau de dificuldade é tanto maior quanto maior é o grau de desconhecimento. Se o aquarismo fosse parte da cultura brasileira como material de apoio à educação ambiental desde a primeira infância, hoje teríamos uma população muito mais familiarizada com as práticas e muito mais participativa em investimentos neste setor. E acredito que haja consenso em relação à riqueza que este tipo de material apresenta, em conteúdos diversificados, para trabalhar a conscientização de crianças e adolescentes quanto à importância dos ecossistemas e do meio ambiente.
NP: Na sua visão, quais os principais entraves para um crescimento melhor do mercado?
CPF: No Brasil, a condição socioeconômica da população, que não só limita, mas inclusive restringe o acesso das pessoas a tudo o que é incomum. Nosso sistema, de maneira geral, parece aplicar a regra do menor esforço na mesma razão e proporção do maior interesse pessoal. Traduzindo de um modo bem vulgar – a frase preferida parece ser aquela velha “o mundo é dos espertos”.
A partir da análise do comportamento de uma grande maioria, estrategicamente, muitas empresas se oportunizam dessa fraqueza de caráter para impor suas práticas de pouco valor moral para ganhar o jogo, a qualquer preço. Isso gera concorrência desleal, sabotagem industrial, entre outras coisas que, analisadas de modo minimamente inteligente, trazem as piores consequências para qualquer mercado e para qualquer população que não possa contar com o desenvolvimento que uma concorrência saudável é capaz de promover. O mercado de aquarismo, seja por sua imensidão, ainda limitada pela exploração incipiente, ou pela própria falta de conhecimento e capacitação de seus exploradores para fazer a diferença corretamente, admite muito dessas práticas nocivas.
NP: Quais os planos para a empresa a curto e a médio prazos?
CPF: A curto prazo, otimizar alguns processos a partir do aumento de capacitação técnica específica em determinadas áreas que promoverão crescimento sem investimentos relevantes; e a médio prazo, ajustar algumas práticas para ampliar capacidade de atendimento e prospectar novos mercados.