Uma abordagem multifatorial.
O sangue transporta gases, nutrientes, resíduos metabólicos, células e faz parte da termorregulação e do equilíbrio hídrico e eletrolítico.
O volume de eritrócitos é determinado pela concentração de hemoglobina ou do hematócrito. Alterações do volume de eritrócitos ocorrem na forma de policitemia (quando o hematócrito ou o eritrócito encontram-se aumentados); ou na anemia, quando estão diminuídos.
O principal sinal clínico da anemia é a presença de mucosas hipocoradas, em casos mais avançados letargia, intolerância ao exercício, sopro cardíaco e arritmia.
O diagnóstico é feito pelo hemograma, contagem de reticulócitos. A avaliação dos fatores de coagulação e a análise bioquímica são importantes para determinar a causa da anemia. Ureia, creatinina, sódio, potássio, cálcio, fósforo, albumina, urinálise, relação proteína/creatinina urinária (RPC) e ultrassonografia abdominal (para determinar anemia
por perdas) são os principais exames da triagem da causa da anemia. Também é importante descartar causas nutricionais, neoplasia, hemoparasitose, sepse e endocrinopatia.
A anemia secundária à doença renal crônica (DRC) caracteriza-se por ser normocítica e normocrômica. A etiologia da anemia na DRC deve ser entendida como de caráter multifatorial. Está relacionada à redução dos níveis de eritropoetina (EPO), indução da fibrose medular pelo paratormônio (PTH), influência de toxinas urêmicas no tempo de sobrevivência do eritrócito, trombocitopatia urêmica, nutrição deficiente dos tecidos e perda sanguínea por hemorragia gastroentérica.
A anemia também está relacionada ao estado inflamatório da DRC. As citocinas pró-inflamatórias liberadas na circulação dos doentes renais crônicos estimulam a produção de hepcidina, que reduz a absorção duodenal de ferro, comprometendo a mobilização dos depósitos de ferro e disponibilização desse mineral para a hematopoiese. A eritropoetina apresenta-se reduzida nos estágios avançados da DRC.
A anemia piora a função renal e sobrecarrega o sistema cardiovascular pela hipoperfusão e baixa disponibilização de oxigênio aos tecidos.
O tratamento está diretamente relacionado à causa da anemia.
A EPO humana recombinante pode ser administrada em pacientes com hematócrito abaixo de 20% na dose de 50 a 100 UI/kg, 2 a 3 vezes por semana até alcançar o hematócrito desejado. Alcançado o objetivo, a dose e frequência de EPO deverão ser reduzidas gradualmente. Estudos relatam casos de hipertensão em pacientes utilizando EPO, em virtude do efeito vasoconstritor da EPO.
A reposição de ferro deverá preceder a administração de EPO, caso o paciente apresente deficiência, preferencialmente via intravenosa em decorrência da baixa absorção de ferro enteral nesses pacientes.
Muitas vezes, a correção da anemia é feita apenas com a reposição do ferro e dieta adequada.
Nos casos de anemia grave, deve-se considerar a realização de transfusão de sangue.
A avaliação criteriosa e o diagnóstico etiológico adequado são fundamentais no tratamento da anemia, considerando a possibilidade da ocorrência de eventos múltiplos associados.
Karine Kleine Figueiredo dos Santos: Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Animais pela Unifran 2011; Pós-graduação em Enfermagem e Nefrologia pela Unifesp 2003; Graduação em Medicina Veterinária pela UNIPLI 1999; Vice-presidente do Colégio Brasileiro de Nefrologia e Urologia Veterinárias (2017-2020); Membro da American Society of Veterinary Nefrology and Urology; Coordenadora da pós-graduação em Nefrologia do CDMV Cursos e Qualittas; Professora de Nefrologia e Cardiologia; Pós-graduação Universidade de Salta Argentina e CDMV cursos; Coordenadora da Nefrologia e Cardiologia do DOK Hospital Veterinário; Autora do livro Guia Prático de Nefrologia em Cães e Gatos, Editora LF Livros, Rio de Janeiro, Brasil.