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Cymothoa Exigua: O comedor de língua de peixe

Os tão conhecidos e apreciados Crustáceos no aquarismo, nomeadamente os camarões e caranguejos, também têm representantes não tão apreciados, os parasitas. Entre os mais conhecidos estão o Verme-âncora (Lernaea sp.), o Piolho-de-peixe (Argulus sp.) e o mais estranho desses, o parasita comedor de língua (Cymothoa exigua).

O parasita comedor de língua tem esse nome comum pelo fato de, já notório em seu nome popular, aderir-se à língua do hospedeiro, sugando-lhe sangue e causando atrofia, até o ponto de substituir a língua do hospedeiro se ligando à base do músculo lingual, único caso registrado em que o hospedeiro substitui um órgão do animal. Outra curiosidade é que apenas a fêmea do parasita realiza tal proeza, através de ganchos especializados. Já o macho, menor, prefere aderir-se às guelras (brânquias) do peixe hospedeiro (Alvarez & Flores, 1996). A forma de ingresso de ambos ainda se dá na fase juvenil, onde o parasita usa como porta de entrada as brânquias.

Apesar da estranheza para nós aquaristas, esse parasita é relativamente comum em mares no entorno de todo o planeta, como por exemplo no Pacífico Oeste, tanto Norte (Califórnia) quanto Sul (Equador), Pacífico Leste (Brusca, 1981), Mar do Norte (Reino Unido), também registrado no Mar Vermelho (Al-Zubaidy & Mhaisen, 2013) e, pasmem, até em águas brasileiras (Natal-RN), registrado por Thatcher et al. (2007) em Oligoplites saurus. E lembremos que muitos desses mares fornecem centenas de peixes ornamentais marinhos (POOM) para nossos Reef’s, chegando através de importações.

E quem quer um desses em nossos queridos (e caros) peixinhos, como no “Nemo”? E, uma vez contraído, a reprodução desse parasita é facilitada por ele ser um hermafrodita e não necessitar “largar” o hospedeiro para reproduzir; uma fêmea chega a produzir 600 ovos (Ruiz & Madrid, 1992).

Apesar de querermos veementemente combater esses parasitas a todo custo, devemos também compreender que diversos desses têm seu papel biológico em fases distintas, pois desempenham um papel importante na cadeia alimentar, em particular na remoção de material de natural em decomposição.

 

Não se preocupe com a Cymothoa exigua

Em uma de suas publicações (Nemo’s Mouth-Full), a fotógrafa e mergulhadora Els Van Den Borre relata que o parasita não faz mal nenhum!

“Desde a minha descoberta em Lembeh, esse parasita comedor de língua de peixe se tornou uma obsessão pessoal. Em nossos mergulhos subsequentes, eu comecei a procurar por peixes de anêmonas infectados pelo parasita. Esse parasita é geralmente bem benéfico ao animal. Eles protegem os seus hospedeiros contra doenças, mantendo-os limpos e removendo outros parasitas que geralmente causam problemas e geralmente os danos causados ao hospedeiro não são significativos, criando uma relação duradoura entre ambos.

Mas há casos que os parasitas crescem tanto que começam a ter acesso ao esôfago dos animais, bloqueando-o e consequentemente causando a morte do hospedeiro. Em pouco tempo minha coleção de fotos desses parasitas cresceu, logo o parasita se tornou benéfico para mim. Eu batizei a foto desses peixes de anêmonas com a boca aberta e infectados pelo parasita de “boca-cheia”. Na Primavera, “boca-cheia” recebeu o primeiro lugar na categoria de Macro Avançado no NCUPS International Underwater Photography Competition SEA 2013. E agora a mesma foto recebeu menção honrosa em um concurso da Scuba Diving Magazine”, finaliza a fotógrafa.

 

Tratamento

Falando-se em combater, devem estar se perguntando como tratar tamanho alien invasor em nossos aquários. Não encontramos facilmente casos reportados de profilaxia ou tratamentos específicos para o Cymothoa exigua, o que podemos considerar é que se tratando de um crustáceo, pequeno porte, ectoparasita, podemos correlacionar com o tratamento do Piolho-de-peixe (Argulus sp.), parasita similar que comumente é tratado através de banhos de imersão em água doce e formaldeído por um minuto com o intuito de matar os parasitas por choque osmótico, em que Moe Jr. (1992) ainda recomenda adicionar cobre (0,15 a 0,30 ppm) ao sistema principal, deixando-o agir por 15 dias, a fim de matar os cistos. No entanto o procedimento não deve ser seguido para Reef’s.

 

Curiosidades

Como última curiosidade sobre esse parasita, agora se tratando de nós, humanos, a BBC News Setembro, 2009 noticiou um caso em que o Cymothoa exigua foi o pivô de um processo legal contra uma grande rede de supermercado, onde o consumidor que entrou com o processo alegou que havia sido envenenado ao comer o isópode dentro do peixe, provavelmente esse em questão.

Nesse caso, porém, sabe-se que isópodes não são venenosos para humanos e que alguns são inclusive consumidos como parte de uma dieta regular. Na dúvida, ainda bem que não comemos peixes ornamentais.

André Albuquerque é fundador da AquaA3. Agradecimentos: Edson Lopes e Marcos Bomfim. Referências: Alvarez, F., and Mario Flores. “Cymothoa exigua (Isopoda: Cymothoidae) parasitando al pargo Lutjanus peru (Pisces: Lutjanidae) en Manzanillo, Colima, México.” Revista de Biologia Tropical 45 (1997): 391-394. Al-Zubaidy, A. B., and F. T. Mhaisen. “The first record of three cymothoid isopods from Red Sea fishes, Yemeni coastal waters.” International Journal of Marine Science 3 (2013). Borre, E. V. D. Nemo’s Mouth-Full, Artigo consultado em 22.02.2016. Moe Jr., A.M. The marine aquarium handbook. Beginner to breeder. Green Turtle Publication, Florida USA. 318 p. 1992. Ruiz-L, A., and J. Madrid-V. “Studies On The Biology Of The Parasitic Isopod Cymothoa exigua Schioedte and Meinert, 1884 And It’s Relationship With The Snapper Lutjanus peru (Pisces: Lutjanidae) Nichols And Murphy, 1922, From Commercial Catch In Michoacan.” Ciencias Marinas 18.1 (1992): 19-34. Souza, Ursulla Pereira, Leandro Muller Gomiero, and Francisco Manoel de Souza Braga. “Interações hospedeiro-parasita entre o lambari Astyanax cf. scabripinnis paranae (Eigenmann, 1927) (Characidae, Tatragonopterinae) e o isópodo Paracymothoa astyanaxi (Lemos de Castro, 1955)(Cymothoidae) no Rio Grande, Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Santa Virgínia.”

 

 

 

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