A aquariofilia é mais do que um hobby! Ela pode ser definida como uma atividade que visa à manutenção de peixes e outros animais aquáticos em sistemas artificiais, recirculados como aquários ou tanques. Para tanto, é necessário o conhecimento de diferentes princípios fundamentais e a qualidade da água destaca-se como o mais importante.
Os tubarões e raias exercem um fascínio sobre as pessoas, seja por suas formas ou fama de ferozes predadores, contribuindo para o sucesso em exposições em aquários públicos e particulares. Contudo, sua manutenção em cativeiro tem-se mostrado muito difícil sendo, muitas vezes, um grande desafio para os aquariofilistas.
A dificuldade na manutenção tem indicado aos curiosos e estudiosos o fato de que se deve ter mais atenção com o controle de alguns parâmetros, por exemplo, características da água, da circulação, da iluminação, da temperatura e da alimentação para estes animais do que para os peixes de água doce.
Os aquários são formados por um conjunto de equipamentos que funcionam interligados entre si (por exemplo, bombas, filtros e tubos), de modo a simular condições semelhantes àquelas encontradas pelos animais na Natureza. São possíveis três sistemas para manutenção de raias e tubarões em aquários, de acordo com sua estrutura e forma de filtragem. Eles podem ser do tipo aberto, onde é constituído diretamente no ambiente natural, permitindo a recirculação da água; semifechado, constituído por um tanque fora do ambiente aquático natural, com bombeamento direto da água, filtragem e renovação constante da água; e fechado, formado por tanques fechados com filtragem interna e externa em que a circulação da água é realizada através de bombas sem que haja troca de água com o ambiente natural.
A manutenção de raias e tubarões em aquários é difícil, com poucas informações sobre parâmetros específicos da água, existindo somente parâmetros limites ideais para manter o conforto e saúde do animal (Tabela abaixo).
A circulação da água deve ser constante e bem distribuída pelo tanque, sem jatos fortes concentrados (comuns nos aquários de corais). Deve-se evitar ao máximo acúmulo e formação de bolhas e microbolhas na linha da água, pois se forem engolidas causam embolia gasosa no estômago e em outros órgãos internos. O uso de muitos equipamentos elétricos também deve ser evitado, pois as pequenas correntes elétricas emitidas por eles na água podem ser sentidas pelos tubarões, desorientando-os e causando estresse ou outros problemas.
A temperatura deve ser também fator de grande preocupação. Além de ser um fator preocupante com relação à elevação nos níveis de amônia (NH3), estão diretamente ligados ao metabolismo dos tubarões: quanto mais quente a água, mais rápido fica o metabolismo do tubarão e maior é a excreção de amônia na água. Para que não atinja níveis tóxicos, é necessário que a concentração de amônia no aquário seja similar à dos locais de origem dos tubarões.
Com relação à iluminação, não há muitas exigências para outros tipos de espécies. Porém, no caso do tubarão-bambu (Chiloscyllium punctatum), esta necessita ser pouco intensa porque são animais que possuem hábitos noturnos.
O acompanhamento regular e frequente dos parâmetros da água possui um papel fundamental na manutenção do tubarão-bambu em aquário, evitando assim o bócio ou alteração no ciclo reprodutivo.
O bócio é o resultado da redução da quantidade de hormônios tireoidianos nos animais, causada pela baixa concentração de iodo na água. Em tubarões de aquários é frequente a necessidade de reposição de iodo pela suplementação com iodeto de potássio nos alimentos para oferecer o que está ausente na água marinha artificial.
Portanto, devemos avaliar a qualidade da água de aquários marinhos rotineiramente para evitarmos doenças em nossos tubarões e raias!
Eduardo Malavasi é biólogo, doutor em ciências pela Universidade de São Paulo.
E-mail: sharkeduardo@gmail.com
André Conrado é veterinário, mestre em ciências pela Universidade de São Paulo.
E-mail: andreveigaconrado@gmail.com
Renata Iunes, mestre em ciências pela Universidade de São Paulo.
E-mail: riunes@gmail.com
Referências: Jung, L.M. Bócio em tubarão-lixa, Ginglymostoma cirratum (Bonnaterre) no cativeiro: Relato de Caso. São Paulo: Curso em Clínica e Cirurgia de Animais Selvagens e exóticos da Universidade Castelo Branco; 2012. Fonte: The New York Times (2017)