São responsáveis por quebrar macromoléculas e moléculas menores favorecendo a digestão.
Enzima é uma molécula principalmente formada por proteína que possui a capacidade de catalisar uma reação química.
Existem três tipos principais de enzimas digestivas pancreáticas: proteases, amilases e lipases.
- Proteases: Tripsina e quimotripsina. Elas quebram proteínas.
- Amilases: As amilases decompõem os carboidratos.
- Lipases: Lipases são responsáveis por quebrar as moléculas de triglicerídeos.
Para animais com pâncreas normal e sem doenças intestinais, não há evidências de que enzimas adicionais tenham benefícios para a digestão ou para a saúde geral.
Um estudo recente administrou suplementos de enzimas digestivas em cães saudáveis e mediu o efeito dos suplementos na digestibilidade de seus alimentos. O estudo constatou que não houve diferença na digestibilidade entre os alimentos suplementados com enzimas e os não suplementados ao medir a digestibilidade das proteínas, gorduras e carboidratos.
A maioria dos cães produz enzimas pancreáticas de forma satisfatória. No entanto, existem doenças e condições que podem limitar a capacidade do pâncreas de realizar seu trabalho. Como, por exemplo, na pancreatite aguda e crônica para ajudar ao pâncreas no seu funcionamento diante da inflação e com isso perda parcial da função. E também na insuficiência pancreática exócrina aonde o pâncreas se torna incapaz de produzir as enzimas pancreáticas e neste caso a suplementação se torna essencial.
Em animais com obstrução biliar, a bílis não chega ao intestino e com isso a lipase pancreática não consegue completar sua função na digestão da gordura e, por isso, a suplementação pode ser importante e necessária em casos de retirada cirúrgica da vesícula. Em humanos, doenças intestinais com consequências absortivas negativas têm indicação terapêutica de suplementação de enzimas pancreáticas. Em cães, estudos estão sendo desenvolvidos para mostrar a mesma indicação.
A deficiência de enzimas pancreáticas pode gerar desnutrição e altera a permeabilidade intestinal, já que as moléculas não corretamente digeridas se tornam agressivas à parede intestinal. Além disso, nestes pacientes há a proliferação das bactérias ruins no intestino e essa disbiose vai também alterar a permeabilidade intestinal, que altera a capacidade imunológica e gera danos importantes à saúde do animal. A disbiose do intestino delgado é causada por uma proliferação anormal de bactérias e/ou pela alteração de espécies bacterianas presentes no lúmen do intestino delgado. No entanto, a disbiose não deve ser considerada um distúrbio primário na maioria.
Existem vários mecanismos de proteção que impedem um paciente de disbiose. O ácido gástrico, a motilidade intestinal e a atividade antibacteriana do suco pancreático limitam o número de bactérias no intestino delgado. O ácido gástrico destrói diretamente as bactérias que são ingeridas com a dieta e também diminui o pH da ingesta, levando a um pH mais baixo no intestino delgado proximal. No entanto, a falta de secreção de ácido gástrico por si só não é suficiente para o desenvolvimento da disbiose.
Os movimentos propulsores do intestino delgado são provavelmente o fator protetor mais importante, uma vez que não há barreira física entre o intestino grosso e o intestino delgado que impediria o cultivo retrógrado do intestino delgado pela microbiota do intestino grosso. As propriedades antibacterianas do suco pancreático não são bem conhecidas em cães. As enzimas digestivas pancreáticas podem ser parcialmente responsáveis pela ação antibacteriana do suco pancreático. Qualquer processo de doença que afete um ou mais dos mecanismos de proteção discutidos pode levar à disbiose do intestino delgado.
Alguns exames podem nos ajudar a decidir quando entrar com enzimas pancreáticas, entre eles, TLI , lipase pancreática imunorreativa, exame coprológico funcional e ultrassonografia. Os benefícios das enzimas pancreáticas são incontestáveis, mas na Medicina Veterinária os estudos são focados nas doenças pancreáticas primárias e mais estudos devem ser desenvolvidos para que os benefícios de tal suplementação sejam melhor aproveitados.
Flávia Maria Tavares Manoel Zimmer é médica-veterinária e sócio-fundadora da ABEV (Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária). Referências bibliográficas
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