As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em todo o mundo.
No Brasil, segundo o cardiômetro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, nos primeiros nove meses de 2020 já são quase 295 mil mortes.
Entre os animais, o problema também é grave. A degeneração das válvulas cardíacas, por exemplo, acomete 85% daqueles com mais de 13 anos. Além disso, outras doenças cardiovasculares são frequentes, como dirofilariose (popularmente chamada de verme do coração), insuficiência cardíaca congestiva (especialmente em cães), cardiomiopatia dilatada hipertrófica (principalmente entre os gatos) e a degeneração da válvula tricúspide.
De acordo com o presidente da CTCPA (Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais) do Conselho Regional de Medicina Veterinária, Márcio Thomazo Mota, a Medicina humana teve influência direta no tratamento de valvopatias – doenças de válvulas –, alteração de ritmo, aumento de câmara cardíaca e também aumento de pressão em animais.
“A Cardiologia Veterinária trouxe da Medicina humana uma série de exames que fizeram com que este diagnóstico fosse muito mais apurado, como ecocardiograma, ecodopplercardiograma, eletro, tomografia, tomografia de tórax, radiografia, holter e exame de pressão. A evolução da área está ligada ao aumento da tecnologia. Existem clínicas focadas em cardiologia, além de centros de especialidades nos quais ela é o carro-chefe”, afirma Mota.
Prevenção
De acordo com a presidente da SBCV, a médica-veterinária Lilian Caram Petrus, o coração é um órgão que pode sofrer alterações por doenças sistêmicas e a falha em seu funcionamento pode levar à alteração em outros órgãos. “Pensando nisso, podemos dizer que o coração é realmente um órgão central que tem um papel fundamental de distribuição de ‘mensagens’ entre os demais”, afirma.
“Com a evolução da Medicina Veterinária, os animais ficaram com a expectativa de vida maior e, por consequência, os problemas cardiológicos começaram a aparecer. O responsável pelo animal está procurando se atentar cada vez mais à prevenção e os exames ajudam muito. Os cardiologistas atentam muito para minimizar o impacto destes problemas no futuro”, esclarece Mota.
Cirurgia Cardiológica Veterinária
Para a presidente da SBCV, quando se trata de cirurgia cardiológica, as que mais cresceram no Brasil foram as feitas por cateterismo, como a valvoplastia da válvula pulmonar, dilatação por balão, oclusão de ducto arterioso patente pelo cateterismo e colocação de marca-passo por cateterismo.
“Antigamente não tinha ninguém que fazia isso no Brasil e hoje existem pelo menos três profissionais. Isso possibilitou o tratamento de algumas doenças que antes não tinham a possibilidade de tratar. A novidade da área é a possibilidade de fazer uma cirurgia de forma mais simples no que diz respeito à segurança cirúrgica”, relata Lilian.
Futuro
Para a presidente da SBCV, a indicação de cirurgias cardíacas ainda é muito limitada e só são realizadas em casos muito específicos. “Precisamos desenvolver melhor a parte de circulação extracorpórea em cães e gatos. Esse é um ponto a melhorar e a desenvolver, o que tornaria possível realizar muitas cirurgias cardíacas que não fazemos por ter essa limitação também”, destaca.
Quando questionado sobre o potencial do setor, o presidente da CTCPA do CRMV-SP diz que ainda há muito a desenvolver, em especial na cirurgia e na farmacologia, com maior foco em medicamentos veterinários. “A cardiologia hoje está entrelaçada com outras áreas da Medicina Veterinária, sendo muito importante para execução de tratamentos e cirurgias de outras especialidades”, diz Márcio.
Reconhecimento
Com tanta influência e importância na vida dos animais, em 2017, o CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) habilitou a SBCV (Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária) para a concessão do Título de Especialista em Cardiologia Veterinária, através da Resolução CFMV nº 1140, de 2017.
De acordo com o presidente da Comissão de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP, a criação da especialidade veio ao encontro da crescente demanda dos últimos 15 anos, já que os tutores passaram a ter mais cuidados com a saúde cardíaca de seus pets.
Especialista
O profissional especializado na área pode realizar atendimento clínico-cardiológico de cães e gatos, além de outras espécies animais, como cavalos e silvestres.
Tendo o certificado emitido pela entidade habilitada junto ao CFMV, o profissional deverá requerer o registro do título de especialista junto ao CRMV-SP.
De acordo com a presidente da SBCV, a prova de Título de Especialista em Cardiologia Veterinária deve acontecer em novembro de 2021, juntamente com o próximo Congresso Brasileiro de Cardiologia Veterinária. “Com o título, estarão habilitados, ainda, para a realização de exames eco e eletrocardiográficos. Isso também obrigará o profissional a se preparar melhor e se atualizar na área”, informa.