Estudos odontoestomatológicos ocorrem desde os tempos antigos. Historicamente pode-se dizer que Aristóteles já mencionava ocorrência de problemas dentais em cavalos aliados ao regime alimentar. Pelagonius compilou um tratado de Medicina Veterinária onde o capítulo 18 intitulava-se “De Dentibus”, ou Sobre Dentes. Assim, verificamos que o interesse pela odontoestomatologia em animais é tão antigo quanto o interesse pela própria medicina dos animais.
A Ciência Médica Veterinária é indispensável para a manutenção da saúde de qualquer plantel de animais, sejam eles de companhia, produção ou selvagens e silvestres. E sempre há uma relação com nutrição aplicada a esses animais no diagnóstico de alguma patologia bucal.
Vamos nos ater aqui principalmente às aves mantidas em cativeiro, como parques ecológicos, zoológicos, criadouros particulares ou mesmo em residências na zona urbana. Atualmente, já existem mais de 37,9 milhões de aves no Brasil.
O entendimento da anatomia, fisiologia, qualidade e quantidade de alimento necessária – e o comportamento dessas aves em seu meio – tem uma dimensão muito maior que deve ser estudada e aplicada com rigor.
O maior conhecimento possível do ambiente preferido desses animais, o emprego de medicamentos mais eficazes e a eficiência dos meios de diagnósticos, hoje ajudados pela alta tecnologia encontrada para esses fins, são contribuições definitivas da ciência para aumentar em muito a qualidade de vida e a longevidade de animais em cativeiro.
Em relação à cavidade oral, os cuidados médicos-veterinários foram negligenciados durante muito tempo, apesar de o bico, no caso das aves, fazer parte do início do tubo digestivo e ser a estrutura fundamental para a sanidade geral do animal.
A cavidade oral não é apenas a porta de entrada para os demais órgãos da ave, mas uma região anatômica de caraterística única, na qual o diagnóstico de enfermidades e patologias pode, com grande frequência, causar problemas insolúveis e levar o animal à morte. Exames físicos são possíveis de se fazer e já nos dão uma noção da condição de nutrição do animal.
Distúrbios nos bicos das aves e estruturas associadas devem ser identificados em seus estágios iniciais, antes que o paciente fique enfraquecido pela desnutrição provocada pela anorexia.
Aves têm particularidades anatômicas. Sua boca (bico) é de estrutura óssea recoberta de tecido córneo, semelhante às unhas dos cães. A forma do bico é determinada pelo tipo de alimento da sua dieta.
Para citar algumas patologias encontradas em aves de cativeiro conservacionista ou urbano: fraturas, crescimento excessivo do bico, deformidades congênitas, problemas nutricionais, enfermidades parasitárias, hipovitaminose A, bouba aviária, tricomoníase, singamose, candidíase, entre outras.
O tratamento odontoestomatológico em aves é um procedimento relativamente novo na Medicina Veterinária e que deve ser parte integrante e indissociável de um programa geral de cuidados com a saúde das aves de cativeiro.
Francis Magno Flosi é professor, médico-veterinário, acadêmico da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas, diretor-presidente do Grupo Qualittas e presidente da ABVET (Associação Brasileira de Veterinários Especialistas).