Em um cenário onde os animais de estimação são cada vez mais considerados membros da família, as principais marcas de luxo do mundo encontraram um novo território para expandir seus impérios: a moda Pet. O que começou como um nicho experimental, hoje movimenta milhões e atrai nomes como Louis Vuitton, Gucci e Ralph Lauren.
A história da moda Pet de luxo tem suas raízes no início dos anos 2000, quando algumas marcas começaram a testar timidamente acessórios para animais. No entanto, foi na última década que o segmento ganhou força, impulsionado pela humanização dos animais de estimação e pelo crescimento do mercado Pet global. Marcas icônicas como Gucci, Tiffany & Co., Prada, Louis Vuitton, Versace e Dolce & Gabbana têm ampliado suas ofertas para incluir produtos de luxo para os pets. A Gucci, por exemplo, lançou uma coleção que reflete o estilo de vida sofisticado dos donos, com camas e coleiras estampadas com o tradicional monograma da marca. A Tiffany & Co. entrou com coleiras premium no icônico azul Tiffany, enquanto a Prada integrou conceitos de sustentabilidade em seus produtos, como bolsas de transporte feitas de Re-Nylon.
Em 2024, o mercado Pet global movimentou mais de US$ 261 bilhões, com previsão de atingir US$ 270 bilhões até 2025. No Brasil, o cenário é ainda mais promissor, com o País sendo o terceiro maior mercado Pet do mundo, faturando R$ 60 bilhões.
“As pessoas estão dispostas a gastar muito dinheiro com seus animais de estimação, considerados membros da família”, destaca Diane Crispell, diretora-executiva da Unity Marketing, no relatório sobre o crescimento do mercado Pet de luxo.
Alessandro Michele, ex-diretor criativo da Gucci, declarou: “Os acessórios pet são uma maneira de estender a narrativa da marca para todos os aspectos da vida de nossos clientes.”
Pierre-Alexis Dumas, diretor artístico da Hermès, comentou ao Financial Times: “É uma evolução natural oferecer a mesma qualidade e artesanato que nossos clientes esperam da Hermès em produtos para seus companheiros de patas.”
A Ralph Lauren, pioneira neste segmento, foi uma das primeiras a identificar esse potencial. “O mercado de luxo para animais de estimação está crescendo exponencialmente, à medida que os millennials adiam ter filhos e tratam seus animais como filhos”, informou Jerry Stritzke, ex-CEO da REI Co-op.
Gabriela Hearst, diretora criativa da Chloé, trouxe a sua visão sobre o mercado em entrevista à Vogue: “É uma extensão natural das marcas de luxo. Os consumidores querem que seus animais de estimação reflitam seu próprio estilo de vida e valores.”
A tendência é confirmada pelas pesquisas. Segundo o Morgan Stanley, o mercado global de produtos para animais de estimação deve atingir US$ 277 bilhões até 2030, crescendo a uma taxa anual de 6%. De acordo com o relatório da Euromonitor International, “o segmento de luxo para pets cresce duas vezes mais rápido que o mercado pet tradicional, impulsionado principalmente pelas gerações Z e millennials”.
Para 2025, o relatório da Grand View Research indica que “o mercado global de produtos Pet de luxo deve manter um crescimento constante de 7,5% ao ano até 2027”.
No Brasil, o cenário é particularmente promissor, com um crescimento de 12% em relação ao ano anterior, faturando R$ 77 bilhões, em 2024. “O Brasil tem um setor Pet em plena ascensão, sendo hoje, um dos maiores do mundo. A diferença é que ainda temos um vasto potencial a ser explorado”, analisa Cirlei Ribeiro Cunha, proprietária da Bichinho Chic, marca pioneira que iniciou suas atividades na década de 1990.
O perfil do consumidor brasileiro também mudou significativamente. “Há uns anos atrás o mercado de luxo para pet era exclusivo para as classes A e B, mas, com o tempo e os pets ganhando cada vez mais espaço dentro das casas, e dos corações de seus donos, já não é mais segredo que todas as classes sociais buscam ‘o melhor para seus (filhos) pets!’”, destaca Cirlei.
A veterinária, Renata Gardelin, enfatiza que a escolha dos materiais é crucial. “Muitos tecidos podem causar alergia em animais de estimação. Por isso, recomendo que vestimentas e bandanas sejam de algodão ou outros tecidos hipoalergênicos.”
Para o verão brasileiro, as peças com proteção UV ganham destaque, mas com ressalvas. “As roupas com proteção UV são uma ótima pedida para o verão de países como o Brasil, mas devem ser usadas apenas durante a exposição do animal ao sol”, alerta a veterinária.
Esta transformação do setor reflete uma mudança cultural mais profunda, onde o luxo para animais de estimação não é apenas uma tendência passageira, mas um reflexo duradouro da evolução na relação entre humanos e os seus animais de estimação.