A figura forte de um chefe autoritário, com todos trabalhando para servi-lo, impera no modelo de organização “Red”. A cultura do medo mantém as coisas em ordem e o poder do chefe constantemente é demonstrado ao melhor estilo Game of Thrones: faça o que eu mando ou corto-lhe a cabeça.
O próximo passo evolutivo foi acabar com essa figura de chefe da máfia. No modelo “Amber”, há uma estrutura hierárquica estabelecida, processos rigorosos e pouca chance de ascensão. O futuro é uma repetição do passado; e o líder é inquestionável. Organizações militares, por exemplo, ainda funcionam assim: o coronel dá a ordem, que passa ao tenente-coronel, que envia ao major, que fala para o capitão, passando pelos tenentes, sargentos, cabos… Até chegar ao soldado.
A consciência humana progrediu e três outros conceitos começaram a ganhar espaço: a meritocracia, a inovação e a responsabilidade com ética. O foco é na produção e no consumo. E, via de regra, os objetivos da empresa concentram-se em superar a concorrência, atingir o lucro e crescer. Para isso, é preciso total controle na gestão.
Objetivos e indicativos de desempenho são medidos e mostrados da mesma forma que um painel de carro mostra o nível de gasolina, o óleo e a quilometragem. Muitas empresas ainda operam neste modelo, indubitavelmente responsável por incontáveis avanços científicos e tecnológicos.
Mas, com o tempo, começaram a aparecer as organizações “Green”, em que seria preciso olhar e cuidar de todas as pessoas como se cuida de um membro da família. Mesmo com a clássica pirâmide hierárquica, nesse modelo é comum haver decisões por consenso e o foco é na cultura da empresa e na convivência social como práticas para manter a motivação das pessoas lá dentro. Estar feliz no trabalho é preponderante. A figura do líder, nesse caso, existe para potencializar todos.
O último e mais evoluído modelo é o das organizações “Teal”. Nele, as próprias pessoas são responsáveis por buscar seu desenvolvimento e a empresa deve criar um espaço seguro para que isso aconteça. É o modelo que lhe faz entender como é fundamental que sejamos sinceros ao responder a pergunta sobre qual é a coisa mais significativa que você poderia fazer com a sua vida agora. Nas empresas “Teal”, autogestão, totalidade e propósito evolutivo são valores importantes. Vamos entender como funciona?
Autogestão: neste novo modelo, é possível operar de maneira efetiva, mesmo em larga escala, com um sistema baseado em relações entre pares, sem a necessidade de hierarquia ou consenso.
Totalidade: é quando você não precisa usar a máscara do profissional no seu trabalho. Máscara que a maioria das empresas, inclusive, espera que você use. Se você está totalmente inserido naquele ambiente, incluindo seus aspectos emocionais, intuitivos e espirituais, você vive aquilo com a sua essência. Quando a totalidade do seu ser se entrega àquilo, você consegue encontrar em suas convicções mais profundas o porquê de você estar fazendo. O ego vai perdendo o seu protagonismo. Você atua com mais paixão, criatividade e energia.
Mas não ache que é fácil. O desafio é criar um ambiente seguro, que acolhe e reconhece que as pessoas são vulneráveis e que é normal sentir insegurança ou qualquer outro sentimento que não parece muito legal de ser compartilhado em uma empresa tradicional.
As pessoas entendem que a empresa tem um propósito e tentam entender os sinais dos caminhos que a empresa vai seguir antes de forçá-la ao que imaginam. No âmbito pessoal, as pessoas devem se possibilitar o questionamento sobre se seu propósito está alinhado com o da empresa.
Trocando miúdos: é possível criar uma maneira mais poderosa, gratificante e significativa de trabalhar? Sim. Olhar ao redor, conectar-se com as pessoas que estão fazendo isso no Brasil, fazer parte desta nova era e, principalmente, possibilitar que outras organizações também o façam é algo energizante.
É possível criar ambientes de trabalho mais transparentes e mais produtivos. Criar empresas que reconheçam o valor humano que possuem e queiram potencializar isso. Formar gestores que acreditam que, com mais contexto, as pessoas podem trabalhar com mais comprometimento e autonomia para se tornarem verdadeiros agentes de transformação. De si mesmos, das organizações e do mundo. Se esse é o futuro, que ele seja bem-vindo.
Francis Magno Flosi é professor, médico-veterinário, acadêmico da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas, diretor-presidente do Grupo Qualittas e presidente da ABVET (Associação Brasileira de Veterinários Especialistas).