O trabalho de resgate desde o rompimento da barragem da Vale teve o envolvimento de 140 cães. Nenhum deles, porém, estava protegido, o que culminou com a contaminação de todos os animais envolvidos por conta da enorme quantidade de resíduos tóxicos depositados na lama que destruiu a cidade.
“Os animais são essenciais para salvar pessoas e é nosso papel pensar no impacto desses desastres e em um plano que os contemplem nessas situações de pós-tragédia”, afirmou a dra. Vania Plaza Nunes, médica-veterinária sanitarista e diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa do Animal em sua palestra no primeiro dia do Animal Health Expo+Congress 2019. Em sua primeira edição, o evento foi o primeiro a ser 100% vet e ocorreu entre os dias 2 e 4 de outubro no Expo Center Norte (Pavilhão Amarelo), em São Paulo.
No Simpósio de Medicina Veterinária de Desastres, a médica-veterinária destacou a importância do papel do profissional frente a essas situações de desastres, como o que ocorreu em Brumadinho (MG) ou Mariana (MG). Segundo ela, cabe ao profissional entender além da tragédia, levando em conta o ecossistema e o entorno do local onde viviam os animais, bem como desenvolver aptidões extras para lidar com a complexidade deste momento.
O Brasil, de acordo com ela, negligencia casos de grande impacto nos animais e meio ambiente desde 1963. Com as cidades cada vez maiores e mais complexas, dra. Vania chama a atenção para o que afeta os animais. “É importante a visão crítica do futuro para o bem-estar social. A proliferação de febre amarela nos últimos anos aconteceu por consequência da tragédia de Mariana (MG). Por isso precisamos repensar e entender a disposição de animais na nossa sociedade”, pontua.
“Além de planejar, o veterinário precisa ser capaz de ensinar e ouvir. Há muita riqueza de detalhe no conhecimento popular para usar em benefício da sociedade. Essas são práticas da Medicina Veterinária de Desastres, que tem como premissa ter pessoas capacitadas para lidar com essas necessidades específicas de animais atingidos por catástrofes ou situações especiais”, orienta.
Com mais de 250 anos, a Medicina Veterinária precisa ter seus valores resgatados, defende Vania. “Animais precisam de atenção tanto quanto os humanos e, em uma situação de desastre, todas as espécies são impactadas de alguma forma. Por isso não importa a especialidade, quem é veterinário tem que atuar e ajudar”, reforça. Na esteira da Medicina Veterinária de Desastre, Vania destacou a Medicina Veterinária Extensionista, que leva em conta cultura de comunidade local; Medicina Veterinária Coletiva, voltada a animais abandonados; e Medicina Veterinária da Conservação, que trata da conexão entre saúde humana e saúde animal e o impacto disso no ecossistema.